sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013
templo de l fuogo // templo do fogo
lhebei te un cacho de la tarde
i dues horas an frol
acesas cumo lhinhas
na palma de la mano
que outros barcos nun cunsínten
ls cuntinentes que se me négan
i nun paro de buscar
ua canseira sien fin
fui le servindo de stierco
a las risas i als poemas de manhana
cóncabos uocos de nada
l friu muito alhá de janeiro
muito alhá de nós
i solo cundiçon de bagamundo queda
apuis de bolber deito me
na cama de las palabras
i ls garamiços húmados
nun hai modo de chiçcar
mas nun deixarei cerilhas an paç
enquanto ua sola arble inda puoda
de caiata serbir para algun fuogo
//
levei-te um bocado da tarde
e duas horas em flor
acesas como linhas
na palma da mão
pois outros barcos não consentem
os continentes que se me negam
e não paro de buscar
uma exaustão sem limites
foi servindo de estrume
aos risos e aos poemas de amanhã
côncavos buracos de nada
o frio muito além de janeiro
muito além de nós
e apenas a condição de vagabundo resta
depois de regressar deito-me
na cama das palavras
e os gravetos húmidos
não há maneira de acender
mas não deixarei os fósforos em paz
enquanto uma só árvore ainda possa
de cajado servir para algum fogo
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