terça-feira, 13 de maio de 2008

L Guardador de Ganados X

Oulá, guardador de ganados,
Ende la borda de la strada,
Quei te diç l aire que passa?»

«Que ye aire, i que passa,
I que já passou antes,
I que passará apuis,
I a ti l que te diç?

«Muita cousa mais do que esso.
Fala-me de muita outra cousa,
De lhembráncias i de sauidades
I de cousas que nunca fúrun.»

«Nunca oubiste passar l aire.
L aire solo fala de l aire.
L que le oubiste fui mintira,
I la mintira stá an ti.»

Fernando Pessoa [Alberto Caeiro]
Traduçon de Fracisco Niebro






[an pertués:
Olá, guardador de rebanhos,
Aí à beira da estrada,
Que te diz o vento que passa?»

«Que é vento, e que passa,
E que já passou antes,
E que passará depois,
E a ti o que te diz?»

«Muita cousa mais do que isso.
Fala-me de muitas outras cousas,
De memórias e de saudades
E de cousas que nunca foram.»

«Nunca ouviste passar o vento.
O vento só fala do vento.
O que lhe ouviste foi mentira,
E a mentira está em ti.»]

1 comentário:

Fir disse...

Buonas tardes, porsor.
O Manuel Alegre bem pode pedir notícias do seu/nosso país ao vento, o Bob Dylan bem pode dizer que a resposta está no vento, mas o Alberto Caeiro, que é um homem simples, é que sabe: o vento só fala do vento.
Grande poema.
Um abraço,
F.